Diretor da GTT Logistics fala sobre os ganhos de eficiência com a tecnologia OCR
O diretor executivo da GTT Logistics, Guido Dellagnelo, acredita que o grande desafio dos fornecedores de tecnologia hoje seja compreender como um segmento obtém vantagens com o seu processo. Nesta entrevista ele fala sobre a tecnologia OCR (Optical Character Recognition) e sua utilização na área logística de forma integrada e visando sempre ganhos de eficiência.
Guido Dellagnelo, diretor executivo da GTT Logistics
– Quais as vantagens de se utilizar a tecnologia OCR na área logística?
Guido Dellagnelo – A grande vantagem da OCR são os processos que a tecnologia começa a permitir, como a intenção de capturar algum dado sensorial e, ao mesmo, tempo evitar todo o tipo de erros de interação, digitação e compreensão. Na área logística, isso sempre significou um ganho de eficiência. Naturalmente esse processo teve que ser absorvido pelo mundo logístico aos poucos. Quando a tecnologia OCR surgiu, há alguns anos, ainda com algoritmos muito pesados na capacidade, ocorreu a assimilação dos numerais de placas de carro e isso não veio do mundo logístico e sim do fluxo dos veículos no trânsito, com a fiscalização, multas etc. Em seguida, a tecnologia OCR veio para a logística e, com isso, conseguimos agregar câmeras, lentes e iluminação, todas mais eficientes. Dessa maneira, começamos a ter um processo confiável de acuracidade e permanência e passamos a confiar na obtenção dos dados sensoriais da placa. Liderada pelos países europeus, a indústria avançou e passamos a usar a mesma tecnologia para fazer o reconhecimento de OCR em containers, que têm uma identificação padronizada no mundo com o Código BIC (Bureau Internacional des Containers).
– E qual é o grande desafio desse processo?
Dellagnelo – O grande desafio é como fazer uma OCR, já que, apesar da padronização, há pinturas diferentes e há o desgaste natural do tempo sobre o container. Na questão logística dos gates, que é onde a Gtt Logistics atua, os desafios sempre são esses. É preciso que os numerais de placas e containers tenham qualidade, que existam e possam ser lidos. Além disso, há toda uma necessidade de infraestrutura para permitir acessar esses dados capturados. E ainda há um terceiro aspecto, que é ter uma plataforma que consiga integrar os vários componentes de hardware que estão operando em um gate portuário, como balanças, cancelas etc.
– E como isso funciona na prática?
Dellagnelo – É preciso unir essa leitura sensorial que foi feita com outros dados sensoriais para desencadear uma ação. Por exemplo, autorizar ou não a entrada de um veículo, abrir uma cancela ou modificar alguma sinalização. Eu diria que a primeira parte desse processo é a serialização e padronização que vai da indústria para o mercado. Já o segundo é a tecnologia, que permite a captura do dado real e o terceiro são as soluções que fazem a integração do software com hardware, para que se tenha estabilidade e, com isso, a confiabilidade de todos que estão envolvidos, até chegar a um limite que não permita mais a intervenção humana.
– Como a tecnologia atual vem se voltando para as necessidades da demanda? Como é feita a atualização tecnológica no setor de logística?
Dellagnelo – O grande desafio dos fornecedores de tecnologia é entender como um segmento ganha vantagem com o seu processo. Ou seja, como você traz aquelas tecnologias, numa composição distinta, e faz com que elas interajam para diversos benefícios. Por exemplo, a leitura de placas. Na Europa já existe alguns trechos de pedágio que cobram pelo uso que você fez da rodovia. Quando um carro entra na pista, a sua placa é reconhecida. Assim, já se sabe o local onde o veículo entrou na rodovia e, mais tarde, onde ele vai sair. Isso não agrega custos. Mas para poder fazer isso você precisa supor que a velocidade do carro vai variar, o clima pode variar (pode chover), a luminosidade pode variar. Para garantir a leitura nessas condições, há um alto valor agregado. E, depois que a indústria investir nisso, a gente vai lá, compreende o que foi feito e traz para a nossa realidade logística.
– Quais as aplicações que a GTT Logistics faz com a tecnologia OCR?
Dellagnelo – Desde o seu início, a Gtt procurou usar essas tecnologias, com foco no ganho de eficiência logística. Escolhemos fazer os controles e os gates – os controles de passagem de mercadoria – em áreas alfandegadas, como portos, aeroportos, portos secos. Nos especializamos porque, na passagem de cargas em ambientes alfandegados há muita legislação regendo esse processo. Então, quando se tem um protocolo e legislação regendo, você sabe quais são as regras e o que está tentando resolver. Isso nos permitiu ter dados sensoriais, sob regulamentação da Receita Federal, Ministério do Meio Ambiente, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Anvisa, e obter ganhos de eficiência na gestão desses protocolos. Um exemplo disso é como reduzir o tempo que se leva para fazer com que um caminhão tenha aprovação de entrada ou de saída em uma área alfandegada.
– Que tipo de impactos esse ganho de eficiência proporciona no cotidiano dos portos?
Dellagnelo – Quando ou vou para uma área alfandegada e descubro que vão entrar 1.000 containers naquele dia, imagino que seja um processo organizado e tranquilo. Mas não é. Quando o navio chega com todos esses containers, de uma vez só, são criadas filas imensas de caminhões, prejudicando até a vida urbana das cidades, impactando de forma negativa a vida das pessoas. Por isso é preciso ter agilidade e velocidade nesse trânsito de mercadorias. E é aí que entra a tecnologia, para organizar tudo isso com velocidade, sem transtornos. Por outro lado, para o porto, a velocidade de movimentação de cargas é a sua fonte de receitas. Então, podemos dizer que a tecnologia consegue aumentar a capacidade de movimentação dos portos, havendo, assim, aumento no volume de produção e na receita. Enfim, nos especializamos nos pontos de passagem. Identificados quais eram os processos, os regulamentos e as tecnologias necessárias para a aquisição desses dados, avançamos na questão da automação.
– O que isso significa?
Dellagnelo – Significa que hoje temos uma soluções para fazer toda a automação da gestão do gate. Posso bloquear ou não uma carga; posso indicar se um caminho está livre ou não; saber se o peso já está conferido ou não. Ou seja, eu comecei não apenas a tomar os dados, mas fazer a automação de todos os sistemas de hardware daquele ambiente e as integrações com o sistema do gate para saber as decisões a serem tomadas.
– E como partiram para outras soluções?
Dellagnelo – Com o avanço das dores dos clientes de portos secos vislumbramos outras soluções, uma delas, decorrente da atual capacidade tecnológica das câmeras – já dentro do período de pandemia. Explico: se você pensar como se faziam as vistorias de carga, como se autorizava uma carga aberta pela Receita Federal, pelo MAPA, Anvisa, por agentes reguladores, vamos verificar que era preciso deslocar pessoas a um recinto. A pandemia restringiu a locomoção das pessoas, mas o mundo continua girando, as cargas continuam indo e vindo. Então, trouxemos a mesma ideia de autoidentificação para as câmeras e, entendendo a regulamentação, criamos uma sala de checagem de carga virtual, em dois modelos. O primeiro é o modelo tradicional, quando estou dentro de uma sala, um ambiente fechado, e tenho que abrir a mercadoria de um cliente porque o fiscal pediu. Como eu reconheço esse fiscal? Ele realmente está autorizado a estar nessa sala? Se houver alguma intercorrência, onde registro o laudo? Como o dono da carga pode contestar a isso ou não e como isso é guardado como um arquivo? Enfim, tudo é verificado e realizado na mais absoluta segurança, como deve ser feito. Já o segundo modelo é a realização dessa mesma checagem de forma remota. Por exemplo, quando se faz a importação de um equipamento que veio em três peças e não cabe dentro de uma sala. Como fazer isso no pátio? Nós criamos uma plataforma com câmeras. O fiscal estará virtualmente representado, mas o dono da carga ou comprador também pode participar virtualmente desse evento.
– Como a GTT Logistics lida com a renovação das tecnologias para garantir aos clientes segurança e menores custos?
Dellagnelo – As tecnologias com certeza vão avançando e melhorando. Obviamente, muitos dos nossos clientes compraram soluções em outra época, quando as câmeras ainda eram analógicas, em preto e branco, as lentes não tinham padrão com autofoco e o controle de acesso de funcionários tem sistema de catraca antiquado. À medida que a tecnologia avança, ele precisa renovar esse parque e necessita que isso tudo converse, se integre. Identificamos a necessidade do cliente de não refazer o investimento e começamos a nos especializar no SCG (Sistema de Controle de Gates), em que o cliente consegue ver todas as soluções integradas em uma tela única. Assim, ele passa a ter um único controle e ganha eficiência nos processos. Na verdade é uma integração de várias soluções – inclusive as de outros fornecedores. Claro, ele também vai renovar o parque, talvez usando câmeras mais eficientes para reduzir o número de câmeras antigas e diminuir a manutenção. Enfim, procuramos oferecer alternativas para que os sistemas dos clientes ganhem mais eficiência à medida em que a tecnologia vai evoluindo.